terça-feira, 5 de abril de 2011

Resumo do Capitulo XV - Doença de Blimunda

Quando a epidemia termina, ela tinha já aprisionado duas mil vontades. Foi então que caiu doente. Nenhuma cura é conhecida nem mesmo a causa do seu adoecimento. Um dia, Scarlatti toca o cravo e ela abriu os olhos e chorou. O maestro vem, então, todos os dias e a saúde de Blimunda depressa recupera.
Somos levados a pensar que a causa do seu adoecimento é talvez de culpa e do próprio fardo que ela transporta ao recolher as vontades e enganar quem sem saber as cede. Embora uma mentira que não magoa, que como muitas vezes o próprio Padre Bartolomeu as inventa, estas não deixam de ser mentiras e por isso Blimunda sente esse fardo, só quando Scarlatti toca o seu cravo ela parece melhorar, podemos entender a sua música como algo similar às vontades (imaterial, nunca vista, difícil de explicar, impossível de entender por quem não a pode ouvir, …) a libertação do fardo que alivia Blimunda.
Baltasar e Blimunda vão a Lisboa procurar Bartolomeu. Este doente, magro e pálido, revela remorsos por ter colocado a vida de Blimunda em perigo. Mas o seu humor não parece alterado pela notícia de que todas as vontades formam recolhidas. Com tudo pronto para que se pudessem elevar e realizar o sonho do Padre, ele anuncia que vai informar o Rei que a passarola está pronta. Não sem antes a experimentar.
O Padre Bartolomeu revela-se ao longo do texto como um Padre nada convencional. Não obstante muitas vezes se surpreende ao questionar o seu Deus. Ele é um intelectual e inventor. Neste caso em concreto Bartolomeu Lourenço põe a sua ânsia de terminar o projecto um pouco a frente da segurança dos seus amigos. Ele pede a Blimunda que incorra em risco para que se consiga concluir a passarola. Confrontada no dilema da sua própria saúde ou o projecto, ela não hesita sequer e parte em viagem. Consigo vai Baltasar.

terça-feira, 29 de março de 2011

Linguagem e Estilo

Na obra encontramos diversas figuras de estilo como metáforas, ironias e hipálages. 
As frases são longas e surgem com aproximação ao discurso oral ou como tradução do monólogo interior e da celeridade do pensamento.

Pontuação:
Ausência de sinais de gráficos caracteriza esta obra. Por exemplo, quando há diálogos os dois pontos e os travessões estão ausentes, as frases exclamativas e interrogativas também não estão assinaladas com os respectivos sinais de pontuação.

Elementos simbólicos

Sete: é o somatório dos quatro pontos cardeais com a trindade divina: representa a totalidade do universo em movimento.
Nos nomes de Baltasar e Blimunda tem um significado dual, uma vez que se liga à mudança de ciclo e a renovação positiva, cujo resultado será a construção da passarola.

Nove: Representa a gestação, renovação e renascimento.
Blimunda procura Baltasar durante nove anos. Quando se separaram, fragmenta-se a unidade representada pelo par. No final é a ela que pertence a “vontade” de Baltasar, no momento em que morre.

Passarola: Elo de ligação entre o céu e a terra “barca voadora” (barca – viagem; ave – liberdade); Representa a alma humana que ascende aos céus, numa ânsia de realização que a liberta do universo canónico e dogmático dos homens.
Simboliza a libertação do espírito e a passagem a um outro estado de existência.

Personagens Simbólicas

Baltasar e Blimunda – Personagens diferentes (ele fisicamente; ela pelos seus poderes)
Ele é o demiurgo que era a passarola.
Tal como Ícaro, ousou aproximar-se demasiado do Sol, sofrendo a queda definitiva que o conduziu à morte na fogueira.
A sua relação amorosa com Blimunda é baseada no silêncio, consentimento mútuo e implícito de ambos  numa vida comum. A relação de completude que os une torna-os imunes ao meio que os rodeia, defende-os das superstições, fortalece-os contra medos e temores.
Simboliza o Sol/ a Lua, o dia/ a noite, a luz/ a sombra, A união dos opostos, o universo divino e o universo humano.

Padre Bartolomeu Lourenço Gusmão
- Ser fragmentário, dividido entre a religião e a alquimia;
- Aplica os conhecimentos mecanicistas da razão e da técnica, ultrapassando a sua época;
- Simboliza as aspirações humanas, que está subjacente ao voo da passarola através das “vontades”, substituindo o dogmatismo religioso pelo humanismo.

Domenico Scarlatti
Representa o transcendente que advém da música e que, ligado à clarividência de Blimunda, instaura o domínio do maravilhoso na obra.
Simboliza a ascensão do homem através da música numa clara união entre a acção e o pensamento.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Espaço Social

Procissão da Quaresma

  • Penitencia física e mortificação da alma, após os desregramentos do entrudo;
  • São manifestações de fé que tocam a esteria.
José Saramago critica estas falsas manifestações de fé 


Autos-de-fé

  • São dias de festa em que o povo exibe um gosto sanguinareo;
  • As mulheres exibem as suas toilletes e entregam-se a jogos de sedução;
  •  Os bens dos judeus eram deixados à coroa, por isso a sua morte era vista como uma coisa positiva;
  • No primeiro auto-de-fé inicia-se a relação entre Baltazar e Belimunda.

Tourada
  • Ocorriam no Terreiro do Paço;
  • O narrador evidencia a tortura aos touros e a desibinição e alegria dos assistentes.

Procissão do Corpo de Deus

  • Critica às crenças e interditos religiosos;
  • Critica à vida dissoluta do Rei com as freiras;
  • Visão oficial da procissão como forma de porificação das almas que tentam libertar-se dos pecados cometidos;
  • Esteria das pessoas que se batem umas às outras.
Sintse: Lisboa é um espaço católico dominado por rituais religiosos, condena-se a religião como "ópio do povo". A capital simboliza um espaço infecto, alimentado pelo ódio aos judeus e cristãos novos, pela corrupção e poder repressivo do clero e pelo poder autoritario do Rei.


 Trabalho no convento

  • Mafra é um espaço de servidão desumana, a que D. João V sujeitou os seus subditos para alimentar a sua vaidade;
  • 40 mil portugueses foram obrigados pele força das armas a deixar as suas casas e ir trabalhar para o convento.

Miséria no Alentejo

  •  O Alentejo é um espaço de fome, miséria, luta pela sobrevivencia e por vezes a entrega a comportamentos morais.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Espaço Físico

São dois os espaços físicos nos quais se desenrola a acção: Lisboa e Mafra.
 Lisboa, enquanto macroespaço, integra outros espaços:
- Terreiro do paço,
- Rossio
 - São Sebastião da Pedreira

o   Terreiro do Paço
Local onde Baltasar trabalha num açougue, após a sua chegada a Lisboa. É onde decorre a procissão do Corpo de Deus.
o   Rossio
Este espaço aparece no início da obra como o local onde decorrem o auto-de-fé e a procissão da Quaresma ou dos penitentes.



o   S. Sebastião da Pedreira
Trata-se de um espaço relacionado com a passarola do padre Bartolomeu de Gusmão, ligada, assim, ao carácter mítico da máquina voadora. Na época, S. Sebastião da Pedreira era um espaço rural, onde existiam várias quintas que integravam palacetes.

o   Espaço físico Mafra
Mafra é o segundo macroespaço. Até à construção do convento, a vida de Mafra decorria na vila velha e no antigo castelo, próximo da igreja de Sto. André.
A Vela foi o local escolhido para a construção do convento, que deu lugar à vila nova, à volta do edifício. Nas imediações da obra, surge a "Ilha da Madeira", onde começaram por se alojar dez mil trabalhadores, ascendendo, mais tarde, a quarenta mil.
Além de Mafra, são ainda referidos espaços como Pêro Pinheiro, a serra do Barregudo, Monte Junto e Torres Vedras.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Personagens da obra

D. João V
 D. João V representa o poder real absolutista que condena uma nação a servir a sua religiosidade fanática e a sua vaidade.
Amante dos prazeres humanos, a figura real é construída através do olhar crítico do narrador, de forma multifacetada: 
  • Devoto fanático; 
  • Assiste aos autos-de-fé; 
  • Não tem qualquer afecto pela esposa;
  • É megalómano; 
  • Vaidoso; 
  • Equipara-se a Deus nas suas relações com as freiras;  
  • É curioso e interessa-se pelas invenções do Padre Bartolomeu; 
  • Gostava de artes e convida Domenico Scarlatti a permanecer em Portugal; 
  • Teme a morte e antecipa a mortalidade através da sagração do convento no dia do seu quadragésimo primeiro aniversário.
D. Maria  Ana Josefa 
A rainha representa a mulher que só através do sonho se liberta da sua condição aristocrática para assumir a sua feminilidade.
D. Maria Ana é caracterizada como uma mulher:
  • Passiva;
  • Insatisfeita;
  • Vive um casamento baseado na aparência;
  • Sexualidade reprimida;
  • Liberta-se através dos sonhos;
  • A atracção que sente pelo cunhado leva-a a redimir-se pela
oração e confissão.   
 
Baltasar Sete-Sóis   


Baltasar Mateus é um dos membros do casal protagonista da narrativa.  
Representa a crítica do narrador à desumanidade da guerra, uma vez que participa na Guerra da Sucessão (1704-1712) e, depois de perder a mão esquerda, é excluído do exército.
É  um homem pragmático e simples, é ele que constrói a passarola projectada pelo Padre Bartolomeu, também participa na construção do Convento e partilha através do silêncio a vida de Blimunda Sete-Luas. Morre vítima da inquisição.
 Blimunda Sete-Luas


Blimunda é o segundo membro do casal protagonista da narrativa.
Mulher sensual e inteligente, Blimunda vive sem subterfúgios, sem regras que a condicionem e escravizem.
 Dotada de poderes invulgares, como a mãe, escolhe Baltasar para partilhar a sua vida, numa existência de amor pleno, de liberdade, sem compromissos e sem culpa.
Blimunda representa o transcendente e a inquietação constante do ser humano em relação à morte, ao amor, ao pecado e à existência de Deus.
O seu dom particular (ecovisão) transfigura esta personagem, aproximando-a da espiritualidade da música de Scarlatti e do sonho de Bartolomeu de Gusmão.
Ao visualizar a essência dos que a rodeiam, Blimunda transgride os códigos existentes e percepciona a hipocrisia e a mentira.
  
Bartolomeu Lourenço de Gusmão

O padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão representa as novas ideias que causavam estranheza na inculta sociedade portuguesa.
Estrangeirado, Bartolomeu de Gusmão tornou-se um alvo apetecido do chacota da corte e da Inquisição, apesar da protecção real.
Homem curioso e grande orador sacro (a sua fama aproxima-o do padre António Vieira).
Bartolomeu de Gusmão evidenciou, ao longo da obra, uma profunda crise de fé, a que as leituras diversificadas e a postura "antidogmática" não serão alheios, numa busca incessante do saber.
A sua personagem risível - era conhecido por "Voador" - torna-o elemento catalisador do voo do passarola, conjuntamente com Baltasar e Blimunda

Domenico Scarlatti
Scarlatti representa a arte que, aliada ao sonho, permite a cura de Blimunda e possibilita a conclusão e o voo da passarola.

O povo 

O verdadeiro protagonista de Memorial do Convento é o povo trabalhador. Espoliado, rude, violento, o povo atravessa toda a narrativa, numa construção de figuras que, embora corporizadas por Baltasar e Blimunda, tipificam a massa colectiva e anónima que construiu, de facto, o convento.
A crítica e o olhar mordaz do narrador enfatizam a escravidão a que foram sujeitos quarenta mil portugueses, para alimentar o sonho de um rei megalómano ao qual se atribui a edificação do Convento de Mafra.
A necessidade de individualizar personagens que representam a força motriz que erigiu o palácio-convento, sob um regime opressivo, é a verdadeira elegia de Saramago para todos aqueles que, embora ficcionais, traduzem a essência de ser português:

GRANDES FEITOS, COM GRANDE ESFORÇO E CAPACIDADE DE SOFRIMENTO