sexta-feira, 11 de março de 2011

Personagens da obra

D. João V
 D. João V representa o poder real absolutista que condena uma nação a servir a sua religiosidade fanática e a sua vaidade.
Amante dos prazeres humanos, a figura real é construída através do olhar crítico do narrador, de forma multifacetada: 
  • Devoto fanático; 
  • Assiste aos autos-de-fé; 
  • Não tem qualquer afecto pela esposa;
  • É megalómano; 
  • Vaidoso; 
  • Equipara-se a Deus nas suas relações com as freiras;  
  • É curioso e interessa-se pelas invenções do Padre Bartolomeu; 
  • Gostava de artes e convida Domenico Scarlatti a permanecer em Portugal; 
  • Teme a morte e antecipa a mortalidade através da sagração do convento no dia do seu quadragésimo primeiro aniversário.
D. Maria  Ana Josefa 
A rainha representa a mulher que só através do sonho se liberta da sua condição aristocrática para assumir a sua feminilidade.
D. Maria Ana é caracterizada como uma mulher:
  • Passiva;
  • Insatisfeita;
  • Vive um casamento baseado na aparência;
  • Sexualidade reprimida;
  • Liberta-se através dos sonhos;
  • A atracção que sente pelo cunhado leva-a a redimir-se pela
oração e confissão.   
 
Baltasar Sete-Sóis   


Baltasar Mateus é um dos membros do casal protagonista da narrativa.  
Representa a crítica do narrador à desumanidade da guerra, uma vez que participa na Guerra da Sucessão (1704-1712) e, depois de perder a mão esquerda, é excluído do exército.
É  um homem pragmático e simples, é ele que constrói a passarola projectada pelo Padre Bartolomeu, também participa na construção do Convento e partilha através do silêncio a vida de Blimunda Sete-Luas. Morre vítima da inquisição.
 Blimunda Sete-Luas


Blimunda é o segundo membro do casal protagonista da narrativa.
Mulher sensual e inteligente, Blimunda vive sem subterfúgios, sem regras que a condicionem e escravizem.
 Dotada de poderes invulgares, como a mãe, escolhe Baltasar para partilhar a sua vida, numa existência de amor pleno, de liberdade, sem compromissos e sem culpa.
Blimunda representa o transcendente e a inquietação constante do ser humano em relação à morte, ao amor, ao pecado e à existência de Deus.
O seu dom particular (ecovisão) transfigura esta personagem, aproximando-a da espiritualidade da música de Scarlatti e do sonho de Bartolomeu de Gusmão.
Ao visualizar a essência dos que a rodeiam, Blimunda transgride os códigos existentes e percepciona a hipocrisia e a mentira.
  
Bartolomeu Lourenço de Gusmão

O padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão representa as novas ideias que causavam estranheza na inculta sociedade portuguesa.
Estrangeirado, Bartolomeu de Gusmão tornou-se um alvo apetecido do chacota da corte e da Inquisição, apesar da protecção real.
Homem curioso e grande orador sacro (a sua fama aproxima-o do padre António Vieira).
Bartolomeu de Gusmão evidenciou, ao longo da obra, uma profunda crise de fé, a que as leituras diversificadas e a postura "antidogmática" não serão alheios, numa busca incessante do saber.
A sua personagem risível - era conhecido por "Voador" - torna-o elemento catalisador do voo do passarola, conjuntamente com Baltasar e Blimunda

Domenico Scarlatti
Scarlatti representa a arte que, aliada ao sonho, permite a cura de Blimunda e possibilita a conclusão e o voo da passarola.

O povo 

O verdadeiro protagonista de Memorial do Convento é o povo trabalhador. Espoliado, rude, violento, o povo atravessa toda a narrativa, numa construção de figuras que, embora corporizadas por Baltasar e Blimunda, tipificam a massa colectiva e anónima que construiu, de facto, o convento.
A crítica e o olhar mordaz do narrador enfatizam a escravidão a que foram sujeitos quarenta mil portugueses, para alimentar o sonho de um rei megalómano ao qual se atribui a edificação do Convento de Mafra.
A necessidade de individualizar personagens que representam a força motriz que erigiu o palácio-convento, sob um regime opressivo, é a verdadeira elegia de Saramago para todos aqueles que, embora ficcionais, traduzem a essência de ser português:

GRANDES FEITOS, COM GRANDE ESFORÇO E CAPACIDADE DE SOFRIMENTO
 
 

 


 
 
  
                     





 

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